
Nosso trabalho
Introdução: Patrimônio, Memória e Tecnologia
Os Casarões, situados em Belém do Pará, representam um marco da memória urbana e cultural da região. Construídos em um período de efervescência econômica e política, os casarões carregam em suas paredes ornamentos e no entorno vestígios de uma época em que Belém se consolidava como polo de circulação de ideias, pessoas e mercadorias. Mais do que um edifício, eles são palimpsestos históricos — estruturas que acumulam camadas de significados, usos e narrativas ao longo do tempo.
A importância de preservar esses tipos de patrimônios transcendem os valores estéticos ou arquitetônicos, trata-se de manter viva a memória coletiva, como bem pontua Candido (2000): “a memória coletiva se constrói a partir dos vestígios que permanecem e dos significados que lhes atribuímos”. Nesse sentido, não é apenas um objeto de contemplação, mas um espaço de investigação, de reconstrução simbólica e de educação patrimonial.
A arqueologia, enquanto ciência que estuda as sociedades humanas por meio da cultura material, oferece ferramentas metodológicas para compreender os modos de vida, as práticas cotidianas e os sistemas simbólicos de populações passadas. Como afirmam Funari & Pinsky (2007) “a Arqueologia é a ciência que estuda as sociedades humanas através da cultura material”. Fragmentos de cerâmica, azulejos, utensílios domésticos e outros artefatos encontrados no entorno do casarão são testemunhos silenciosos que, quando interpretados, revelam aspectos da vida social, econômica e cultural da época.
Contudo, a preservação desses vestígios enfrenta desafios como a ação do tempo, a urbanização acelerada e a falta de políticas públicas voltadas à conservação do patrimônio que colocam em risco a integridade desses elementos. É nesse contexto que a tecnologia digital surge como aliada estratégica: a digitalização, a modelagem tridimensional e a impressão 3D de artefatos arqueológicos não apenas garantem a preservação virtual dos objetos, como também ampliam o acesso ao conhecimento, permitindo que estudantes, pesquisadores e a comunidade interajam com réplicas fiéis dos originais.
Este projeto propõe justamente essa convergência entre arqueologia, tecnologia e educação, ao envolver estudantes do Ensino Médio e Técnico em um processo ativo de prospecção simulada, digitalização, reconstrução virtual e impressão 3D de artefatos, promove-se uma experiência interdisciplinar que articula história, arte, design, ciência e inovação. Os alunos deixam de ser meros receptores de conteúdo para se tornarem agentes da memória, capazes de compreender o passado por meio da prática, da experimentação e da criação.
Além disso, a proposta dialoga com os princípios da Educação Patrimonial, que busca sensibilizar os sujeitos para o valor dos bens culturais, estimulando o respeito, o cuidado e o engajamento com o patrimônio local. Como destaca Chagas (2003), “a educação patrimonial é uma prática educativa que visa à formação de cidadãos conscientes da importância da preservação dos bens culturais”. Ao integrar ferramentas digitais nesse processo, amplia-se o alcance e a atratividade da proposta, especialmente entre os jovens, que já estão imersos em ambientes tecnológicos.